A maioria das escolas da rede estadual de São Paulo não aparece na lista com as médias do Exame Nacional de Ensino Médio (Enem) 2014 divulgadas na quarta-feira (5), pelo Ministério da Educação (MEC). Das 3,6 mil escolas de ensino médio da rede, 68%, ou 2,4 mil, não tiveram mais da metade de seus alunos no exame – e são, em geral, unidades com indicadores de qualidade mais baixo. Esse porcentual é ainda maior nas unidades da rede na capital paulista: 79% estão fora do ranking.

O MEC não divulga as médias de colégios em que menos da metade dos alunos fez a prova. O dado revela que a rede pública tem dificuldade de estimular o aluno a fazer o exame.

O Enem é a porta de entrada para praticamente todas as universidades federais, em que 50% das vagas são reservadas para alunos de escola pública pela Lei de Cotas. É ainda critério para bolsas do ProUni e Financiamento Estudantil (Fies) em instituições privadas. Ele é gratuito para quem é da rede pública.

O ranking do Enem, em que figuram no topo as escolas particulares, não contempla 52% das escolas públicas brasileiras – por não terem metade dos alunos fazendo o exame (escolas com menos de dez participantes não aparecem). A situação é totalmente oposta na rede privada: somente 24% das 8,1 mil escolas do País não tiveram os dados divulgados.

No Estado de São Paulo, que tem a maior rede pública e também privada do Brasil, a situação é mais extrema. As 68% das escolas com menos da metade dos alunos no Enem representam 2.450 unidades. Esse porcentual só é menor que Roraima, Maranhão, Bahia e Acre. O Estado de Minas Gerais, com mais de 2,2 mil escolas, conseguiu que 54% dos colégios tivessem participação de mais da metade dos alunos no exame. A rede lidera a média do Enem entre os Estados, com 585,10 pontos.

Qualidade

A rede estadual paulista ficou com nota 496,69 – sem contar as escolas técnicas ligadas ao Centro Paula Souza. Cruzamento com o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp) mostra que as escolas com mais da metade dos alunos participando do Enem têm Idesp 36% maior do que as escolas que não garantiram essa participação.

O economista Sérgio Custódio, do Movimento dos Sem Universidade (MSU), afirma que é comum os alunos de escolas públicas de São Paulo não saberem da existência dos institutos federais e da Lei de Cotas. “O aluno não pode ser responsabilizado, não existe autoexclusão. As autoridades educacionais têm de dar o caminho.”

Aluna do 3º ano do ensino médio da rede estadual paulista, Natália Campanhã já desistiu de fazer o Enem neste ano. “Por causa da greve, não tivemos o conteúdo direito. Senti que não teria base para fazer a prova”, diz ela, de 16 anos, que estuda em um colégio na zona norte da capital.

Herman Voorwald, secretário de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB), reconhece que há dificuldades em estimular alunos de níveis socioeconômicos mais baixos. “Se o pai é alfabetizado, tem formação técnica ou superior, a educação passa a ser um valor trabalhado em casa. Há um menino com outras perspectivas.”

Segundo a pasta, a rede incentiva a inscrição e oferece conteúdos online de preparação para o Enem. Voorwald ressalta que, em São Paulo, há mais possibilidades aos jovens que saem do ensino médio. “É um Estado diferenciado no sentido da oferta de trabalho, formação no ensino técnico e uma rede de universidades que dá ao menino outras opções além do Enem.”

No Ceará, por exemplo, há ações de incentivo para a participação na prova, como custeio de transporte e hospedagem para alunos que moram em regiões afastadas. Só 6% das escolas não estão na lista do Enem. Para Francisco Soares, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), que organiza o exame, deve haver maior articulação entre o MEC e os Estados. “O ensino médio não consegue acolher os alunos como devia.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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