Cada região, mais do que um potencial, tem um destino traçado por suas condições naturais, as qualidades intrínsecas que Milton Santos chamou de: “horizontalidades serão dominios de contiguidade daqueles lugares vizinhos reunidos por continu idade territorial”.

Da distante Universidade de Coimbra, onde as luzes da ciência primeiro iluminaram a Idade das Trevas medievais, veio a primeira diretriz geopolítica sobre o Pantanal, fundar um triângulo de cidades no seu sistema potâmico, para assegurar manutenção da posse e domínio sobre sua integridade e continuidade territorial.

Coração úmido formado quando se definiu geologicamente a América do Sul, oriundo quando o choque que colou as placas da Pangeia, levantaram montanhas e planaltos e o definiu como Planície Litoraleña Central, Lago Eupana, Mar de Xaraiés, Mosaico de Transição, Complexo do Pantanal e finalmente, Planície do Pantanal

Durante séculos fascinou o mundo e os embates entre nativos, portugueses e espanhóis, marcaram o triunfo lusitano que carente de armas, usou mais a inteligência dos casamentos multi raciais do que guerra, para incorporar-se e estabelecer uma nova cultura miscigenada com os habitantes locais, totalmente adaptada às mutantes condições climáticas da região, estabelecidos como criadores do gado espalhados na exuberância dos campos nativos.

Outras condicionantes geográficas ajudaram Corumbá a se incorporar junto com suas coirmãs Cáceres e Poconé, e realizar com sucesso as suas missões de defesa e consolidação de uma cultura eminentemente pantaneira, imune ante as mudanças climáticas entre seca e cheia, calor e fria, as inconstantes constâncias locais…

Os poconeanos, embora pertos de Cuiabá construíram uma Poconé na beira do rio, especulei muito minha mãe Eudóxia e devo ter em algum lugar as anotações que descreviam proprietários e modelo de casa por casa, pois preferiam frequentar a também pantaneira Corumbá.

Num dos primeiros embates das verticalidades longínquas, grande empreiteira nacional adquiriu terras pantaneiras e passaram o trator nessa servidão local onde restam pisos hidráulicos de rara formosura e algumas guarnições metálicas finamente lavradas, completaram o serviço construindo enorme barragem como cerca divisória.

Como não tinha gente dentro dessa barragem para gerar efluentes líquidos e sólidos, depois de ter mandado os poconeanos com água no teto das fazendas tradicionais, ir comer pedra na cidade, o tal terreno secou de tal forma que tiveram de abrir a barragem, menos mal que as pedras urbanas de Poconé revelaram ter alto teor de ouro.

Corumbá, depois da Retomada, vivenciou o destino preconizado como principal entrocamento hidroviário no centro do continente, depois multimodal com os trilhos até Porto Esperança, e após a construção de ciclópica mega Ponte, trilhos e estações tornaram-se internacionais adentrando a Bolívia, buscando o Oceano Pacífico.

Fato já ocorrido também com a Br 262 , Rodovia Panamericana asfaltada desde Vitória no Espirito Santo e que nos conecta via Bolivia com os Portos de Ilo e Matarani no Peru.

Não se esgotam nesses fatores o potencial de Corumbá, enclave montanhoso na imensidão da Planície Pantaneira, onde o que não é calcário calcítico inorgânico é calcário dolomitico orgânico ou minério de ferro ou ainda minério de manganês, colossais jazidas que as poucas industrias de transformação seguem tentando agregar valor de ouro, hje limitadas a modestas toneladas anuais.

O maior entroncamento de aerovias superiores da América do Sul, cruzando no sentido Norte Sul e Leste Oeste, deveria manter o Aeroporto Internacional de Corumbá como o de maior movimento do Brasil que um dia atingiu, hoje, sem as centenas de aviões baseados e escasso voo comercial diário, somente uma pescaria noturna no Rio Paraguai, pode quantificar a dimensão do incessante piscar de luzes, movimento aéreo a brilhar na escuridão celeste.

Os investimentos que nos dotou de linhões que nos conectam às hidroelétricas feitas com cimento daqui, no rio Paraná afluente do Rio Paraguai deveria servir agora para enviar energia gerada nas termoelétricas locais, com o gás importado pelo nosso gasoduto internacional.

Cientes do velho axioma que estabelece que quando um fato econômico se move independentemente ou à revelia do governo, este opta por taxá-lo duramente, e se continuar a se mover, deve-se normatizá-lo ao máximo, quando finalmente imobilizado, subsidiá-lo para o controlar.

Subsídio por subsídio deve-se optar para verticalidades distantes que a conveniência política os tornará mais lucrativos, mesmo quando flagrantemente inviáveis economicamente.

O Pantanal expõe novamente que somos uma grande reserva particular do patrimônio nacional, nos moldes de moderno “outros métodos espaciais de conservação”, orando contritamente para que o Senhor e os Santos pantaneiros nos excluam de trapaças e trapalhões.

 

Armando Arruda Lacerda

Porto São Pedro

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